Em meio à crescente discussão sobre a regulamentação dos motoristas de aplicativo, conversamos com Diego Brzezinski, que atua na área há quase sete anos. Com experiência de sobra e envolvimento direto nos debates sobre os Projetos de Lei que tramitam no Congresso, ele compartilha uma visão crítica e fundamentada sobre o futuro da categoria.
“Voltei 100% pro aplicativo, porque é o que me sustenta”
Diego iniciou sua trajetória em 2018, e afirma que já viveu de tudo nas plataformas. Em 2024, chegou a trabalhar com carteira assinada por um período, mas em 2025 decidiu retornar exclusivamente à rotina como motorista.
“Já vai pra 7 anos que estou como motorista. Em 2024, voltei a trabalhar como CLT, mas esse ano encerrei o contrato e retornei 100% pros aplicativos.”
A regulamentação é necessária — mas do jeito certo
Para Diego, a regulamentação da atividade é fundamental, mas precisa ser pensada com responsabilidade e equilíbrio:
“A regulamentação é necessária para evitar abusos por parte das empresas. Mas ela não pode beneficiar só o governo e as plataformas. Tem que proteger o motorista de verdade.”
Ele alerta para o risco de uma regulamentação que só transfira responsabilidades sem garantir melhorias reais para quem está na ponta, lidando com os desafios da mobilidade urbana diariamente.
O PL 12/2024 é um perigo para a categoria
Diego acompanhou de perto os debates em torno dos dois principais projetos em tramitação: o PL 12/2024 e o PL 536. Segundo ele, a diferença entre os dois é gritante.
“O 12/2024 foi feito para atender as empresas e o governo. Não leva em conta a nossa realidade. Já o 536 foi construído ouvindo os motoristas. É outro nível de proposta.”
Ele argumenta que o projeto 12 pode tornar a vida do motorista ainda mais difícil, com jornadas mais longas e rendimentos mais baixos:
“A ideia de pagamento por hora pode parecer bonita, mas ignora que nosso maior custo é por quilômetro rodado. Do jeito que está, esse projeto pode colocar o motorista direto no prejuízo.”
“Somos chamados de autônomos, mas não definimos nem nosso preço”
Uma das críticas mais contundentes de Diego é sobre a incoerência na relação entre plataformas e motoristas:
“Se somos autônomos, por que não podemos definir o valor da nossa corrida? A plataforma já manda tudo fechado. Isso quebra completamente o argumento da autonomia.”
Ele ainda reforça que as plataformas possuem um poder absurdo nas mãos: o algoritmo.
“Com uma simples mudança no sistema, elas impactam milhares de motoristas de uma vez só. Por isso a regulamentação tem que ser bem feita. Senão, a gente continua refém do algoritmo.”
O Brasil precisa discutir uma “terceira via” trabalhista
Diego aponta um problema estrutural na legislação brasileira: só existem duas categorias formais — CLT e autônomo. Para ele, a regulamentação ideal exigiria a criação de um novo modelo.
“Em outros países já existe essa terceira via: o trabalhador por hora ou por meta. Aqui, o cara não quer ser CLT, mas também não pode ser tratado como autônomo e levar todo o custo sozinho. Isso precisa mudar.”
Rígida para as empresas, justa para os motoristas
Quando perguntado se a regulamentação deveria ser mais rígida ou flexível, Diego resume com clareza:
“Tem que ser rígida com as plataformas, sim. Mas justa com o motorista. A gente precisa de regras, sim — principalmente pra cadastro, comportamento, segurança. Mas não podemos aceitar um modelo que só explora.”
Considerações finais: “O motorista precisa aprender a calcular seu próprio custo”
Diego encerra a conversa com um alerta importante para toda a categoria:
“Os motoristas precisam entender quanto custa o próprio quilômetro rodado. Sem isso, não tem como saber se a corrida vale a pena ou não. E enquanto a gente não tiver voz pra precificar o nosso trabalho, essa história de que somos autônomos é só fachada.”
Se você é motorista ou acompanha de perto essa realidade, fica aqui o chamado: regulamentar é preciso, mas não dá pra ser nas costas de quem carrega o país nas ruas. A luta continua — e a discussão está só começando.