Com 8 anos de experiência nas plataformas, Luciana Marçura fala com propriedade sobre os desafios da categoria, critica duramente o PLP 12/2024 e defende com firmeza o PL 536/2024 como a regulamentação que realmente beneficia motoristas.

A regulamentação do trabalho por aplicativo tem sido um dos temas mais quentes do momento. E ninguém melhor para falar sobre isso do que quem vive isso todos os dias. Diretamente de Sorocaba (SP), Luciana Marçura, motorista de aplicativo há quase uma década, nos concedeu uma entrevista sincera e contundente sobre o que pensa dos projetos em andamento no Congresso. O que ela diz pode surpreender muita gente — e incomodar outras tantas.

“Hoje, a conta não fecha mais”

Luciana começou a dirigir em São Paulo, trocando a estabilidade de um emprego com carteira assinada pela promessa de liberdade e ganhos maiores nas ruas. No início, funcionava.

“Eu fazia 8 horas por dia e tirava R$300, R$400 livres. Hoje, pra fazer isso, eu tenho que ficar 12, 14, até 15 horas na rua. Tudo aumentou: gasolina, manutenção, aluguel de carro… e os ganhos só caem. Se você não souber trabalhar, a conta simplesmente não fecha.”

“Regulamentação é necessária — mas tem que ser justa”

Para Luciana, não há dúvidas: a regulamentação é importante, mas precisa ser feita com responsabilidade e justiça.

“Sou totalmente a favor de uma regulamentação, mas que atenda aos dois lados. O que vimos até agora é que a maioria dos textos só beneficia as grandes plataformas. Isso não dá mais!”

Ela lembrou com orgulho da mobilização nacional que barrou projetos injustos no passado — e defende que os motoristas estejam sempre atentos e unidos.

“PLP 12 é lixo. A 536 é o que queremos!”

Sem papas na língua, Luciana detonou o PLP 12/2024, chamando-o de inviável e desconectado da realidade dos motoristas.

“Esse projeto tinha que ir direto pro lixo. Não tem como emendar, não escutaram a categoria, o relator nunca nem sentou no carro pra sentir na pele. Tudo ali é o que o governo quer, não o que o motorista precisa.”

Em contrapartida, a PL 536/2024 é, segundo ela, o modelo ideal:

“Ela garante ganho por quilômetro, por minuto, tarifa dinâmica e fixa de desconto. A regra é clara. Se o passageiro pagou R$100, e a taxa da plataforma é 25%, o motorista recebe R$75. É simples. Isso é justiça!”

Luciana também ressaltou que essa proposta fortalece aplicativos regionais e evita o monopólio das gigantes do setor.

“Se passar o PLP 12, vou ter que viver mais na rua ainda”

Os impactos diretos da PLP 12 na rotina de motoristas seriam brutais, segundo ela. A proposta desestimula quem tenta trabalhar de forma estratégica.

“Minha taxa de aceitação é baixíssima. Ontem, por exemplo, fechei o dia com 5%. Recebo 50 corridas pra aceitar uma que vale a pena. Se essa PL passar, vou ter que ficar o dia inteiro tentando tirar o mínimo que preciso.”

Ela cita a Lady Driver, aplicativo que opera em Sorocaba e oferece condições mais justas às mulheres motoristas, como um exemplo do que funciona — e o que falta para os homens.

“Regulamentação tem que criar profissão, não complicar a vida”

Luciana vê na regulamentação a chance de tornar a profissão oficial, mas defende que isso seja feito com autonomia, e não com imposição.

“A 536 prevê até um MEI específico pra nossa categoria. Dá liberdade pro motorista escolher se quer contribuir pelo carnê ou pelo MEI. Dá dignidade sem enfiar goela abaixo um modelo que só beneficia governo e plataforma.”

“Quero regulamentação RÍGIDA!”

Contrariando o senso comum, Luciana defende regras duras para separar quem realmente vive da profissão dos oportunistas.

“Tem muita gente que entra só pra fazer um pico, sem compromisso com a profissão. Bagunça o mercado. Com regras rígidas, só fica quem quer trabalhar sério. Eu sou a favor, sim!”

E o que mais precisa mudar?

Luciana finaliza com um recado direto: a base da regulamentação tem que ser o valor justo por quilômetro, por minuto e com total transparência nas taxas.

“Tem que existir markup. A gente roda, gasta com manutenção, combustível… A 536 entende isso. A PLP 12 não ajuda em nada. É melhor continuar como tá do que aceitar aquilo.”

Movinmapp agradece a disponibilidade de Luciana e reforça que esse tipo de voz precisa ecoar. O debate sobre regulamentação não pode ser feito de cima pra baixo. Tem que vir das ruas, de quem sente no volante cada decisão que Brasília toma.

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